Foi inaugurada em Portão, no Rio Grande do Sul, a primeira fábrica da América Latina a transformar resíduo de couro em adubo orgânico nitrogenado. A Ilsa Brasil, empresa de capital ítalo-brasileiro, tem capacidade instalada para receber até 35 mil toneladas ao ano de resíduos dos setores de couro e calçados, o que equivale à totalidade dos resíduos gerados por esse segmento no Estado. Esse material permite a produção de cerca de 20 mil toneladas de adubo.

Francisco Gomes

Foram investidos R$ 10 milhões na unidade. O Rio Grande do Sul foi escolhido para receber a primeira unidade em razão da concentração de fábricas de couro e calçados nos municípios do Vale dos Sinos. Porém, em dois anos a empresa planeja implantar uma nova fábrica no Centro do país. A Ilsa começou a operar em Verona em 1956 e, em 1979, se transferiu para Arzignano, região de curtumes na Itália. No ano passado, exportou sua produção para 31 países.

O diretor da Ilsa na Itália, Paolo Girelli, afirmou que o investimento no

Brasil é o início de uma grande jornada, “porque sabemos da importância deste país na área do couro. Os primeiros contêineres de fertilizante produzido aqui já estão chegando à Itália, onde contribuirão para uma grande demanda europeia por fertilizantes orgânicos”. Observou ainda que “em breve estes produtos estarão beneficiando também a agricultura brasileira”.

O presidente da AICSul, Francisco Gomes, destacou o pioneirismo ambiental do setor coureiro. “Para que se tenha uma idéia, as indústrias do couro gaúchas dispendem em média um por cento do seu faturamento bruto em tratamento de efluentes, o que representa 20 milhões de reais ao ano”. Neste sentido, sugeriu que outros setores, e principalmente do setor público, atuem de forma mais efetiva na preservação do meio ambiente. Acrescentou que “estamos vendo mais um exemplo da capacidade do setor de gerar soluções ecologicamente corretas. A Ilsa Brasil é uma inteligente aliança ítalo-brasileira, trazendo ao país uma tecnologia que permite a transformação de resíduos do couro em fertilizantes orgânicos, não mais gerando passivo ambiental nas empresas do setor”.

Torvaldo Marzzolla Filho, presidente do Conselho de Meio Ambiente da Fiergs, sublinhou que “aqui está sendo materializado um sonho de fazer do resíduo do couro, hoje um problema ambiental, um produto nobre, que é um fertilizante de alta qualidade”. Adicionou que o início das atividades da Ilsa Brasil “é uma conquista que reforça a vocação tecnológica da indústria gaúcha”. Ressaltou ainda que o adubo aqui produzido será um passo decisivo para o crescimento da indústria gaúcha de fertilizantes, viabilizando a substituição de importações.

Lamentando que Portão está sofrendo com a crise do setor coureiro, o prefeito deste município, Elói Besson, manifestou sua convicção de que esta coragem de investir, evidenciada pela Ilsa, é uma demonstração de que esta crise será superada.

A governadora Yeda Crusius, cuja presença na solenidade estava prevista, acabou cancelando sua vinda. Foi representada pelo secretário estadual do Meio Ambiente, deputado Berfran Rosado, que qualificou o início das atividades da Ilsa Brasil como um exemplo para todas as cadeias produtivas. Recordou que a cadeia do couro e do calçado tem uma longa história de enfrentamento de dificuldades, vencendo obstáculos que garantem emprego e renda aos gaúchos. Identificou a nova fábrica como a transformação de um problema em solução ambiental. Acrescentou que o governo gaúcho se orgulha de ser parceiro ativo neste processo e “fizemos isto porque para nós está claro que se trata de uma iniciativa exemplar na conquista da sustentabilidade da atividade econômica”.