Seminário Nacional da Indústria Calçadista reuniu autoridades em Ergonomia
O setor calçadista acaba de construir mais uma etapa da sua história no que se refere à saúde do trabalhador. O 15º Seminário Nacional da Indústria de Calçados (SNIC), realizado pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) na Universidade Feevale, em Novo Hamburgo/RS, foi considerado um sucesso não apenas pelo número de participantes –em torno de 150 pessoas– mas pelo conteúdo das palestras apresentadas e pelo que esta discussão representa em termos de evolução para as indústrias.
Todos os esforços somados até agora para melhorar a qualidade de vida dos trabalhadores culminou com o lançamento da Cartilha de Ergonomia na Indústria Calçadista – Diretrizes para a Segurança e Saúde do Trabalhador. A publicação de 96 páginas norteará as práticas ergonômicas das fábricas a partir de agora, uma vez que foi elaborada pela Comissão Tripartite Paritária de Ergonomia, composta por representantes dos empregadores, através da Abicalçados; do Governo, através do Ministério do Trabalho e Emprego,e dos trabalhadores.
O tema é de interesse total dos empregadores, conforme destacou Rogério Dreyer, diretor-executivo da Abicalçados. “Conseguimos reunir aqui a nata do pensamento acadêmico no que se refere à Ergonomia, e percebemos o quanto isso pode ajudar as empresas”, assinalou. O evento teve patrocínio do Sebrae Nacional e apoio da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Universidade Feevale, Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Vestuário e Calçados do Rio Grande do Sul (Feticvergs), Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) e Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex-Brasil).
Organização do trabalho
O auditor-fiscal do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), Paulo Oliveira, ressaltou os aspectos organizacionais da empresa como itens fundamentais para realizar mudanças. “Qualquer ação para trazer melhorias deve estar na cultura de organização da empresa. Deve fazer parte do dia-a-dia da corporação”, ressaltou. Para Oliveira, é preciso pensar em todos os aspectos de qualidade, incluindo fatores psicológicos, e não somente na relação homem x estação de trabalho. “Com o avanço rápido da tecnologia, o trabalhador tem acesso a muitas formas de trabalho mesmo longe da empresa, o que faz com que fique escravo do trabalho. O fato de nunca fazer um desligamento de suas atividades – como responder e-mails no horário das refeições, à noite ou no final de semana – acarreta perda em saúde mental”, explicou. Muitos casos de benefício previdenciário são ocasionados por estresse atualmente.
Condições ambientais
Rafael Araújo, coordenador do setor de Inspeção do Trabalho da Gerência Regional do Trabalho e Emprego de Novo Hamburgo/RS, contextualizou a Ergonomia, principalmente sua evolução histórica, e enfatizou que seu bom aproveitamento na indústria está diretamente ligado a condições ambientais. “Não falamos somente de condições insalubres, mas de outros fatores que interferem no ambiente com temperatura e iluminação”, destacou.
Decisões de diretoria
Seguindo a mesma linha de raciocínio, o médico do trabalho Renan de Oliveira defendeu a idéia de que a decisão de promover melhores condições de trabalho deve partir da instância máxima, que é a direção da empresa. “Se não houver decisão e comprometimento, todo o trabalho para a implantação da Ergonomia pode ser eliminado”, alertou. O médico observou que é importante colocar na balança não somente os índices de produtividade, mas também itens como absenteísmo (faltas ocasionadas por lesões no trabalho) e custos com acidentes de trabalho, para avaliar de forma correta como deve investir. “A saúde do funcionário não é um bem que pode ser trocado por produtividade”, sentenciou.
Avaliação para cada caso
A doutora em Ergonomia Jacinta Renner sustenta a opinião de que não existe fórmula pronta para implantar as melhores práticas ergonômicas em uma organização. Ela recordou que, há algumas décadas, alguns empresários viajaram ao Japão estudar os índices de produtividade e, deparando-se com os operários trabalhando em pé, adotaram este modelo, que está demorando muito para ser revertido. “É impossível importar cultura”, declarou Jacinta, esclarecendo que cada empresa tem uma necessidade diferente, de acordo com os produtos que fabrica. A doutora explicou também que, na maioria das situações, não é preciso dispensar muito dinheiro para as melhorias. “As empresas que não podem contratar uma consultoria podem resolver muitos problemas posturais de forma simples, ouvindo os trabalhadores e fazendo pequenos reparos”.
Passos para a implantação
Débora Bühler, fisioterapeuta, demonstrou que gestão e melhorias se fazem com boa vontade. “Através de uma equipe multidisciplinar, é preciso avaliar, planejar e implantar mudanças ergonômicas visando conforto, saúde e desempenho eficiente”, apontou. Débora argumentou que o primeiro passo é definir a demanda, depois definir equipe, detalhar projeto, dividir as tarefas e estipular prazos.
Patologia piscossocial
“Muitos problemas ocasionados por má gestão hoje estão relacionados à saúde mental”, alertou o consultor Márcio Marçal. Ele explicou que, além de dores e lesões musculares relacionadas ao ambiente de trabalho, problemas como úlcera, gastrite, síndrome do pânico, insônia e depressão muitas vezes são geradas pelas condições do ambiente, como iluminação e estação de trabalho inadequados. “Há registros de casos onde, após reformulação de espaço onde as pessoas perderam sua individualidade, começou a ocorrer brigas e as pessoas envolvidas começaram a ficar doentes por causa do estresse”, exemplificou. Ele também atribui à tecnologia uma mudança no comportamento profissional, onde a interação é cada vez menor, o que também gera um desconforto emocional.
————————
Abicalçados







Deja una respuesta
Lo siento, debes estar conectado para publicar un comentario.